“Seva” é uma palavra do sânscrito, uma das línguas ancestrais e sagradas da Índia, e pode ser traduzida como “serviço altruísta”. Trata-se de um trabalho voluntário oferecido ao mestre espiritual, sem qualquer intenção de benefício pessoal. Um movimento que acontece de forma natural em muitos ashrams pelo país — comunidades espirituais voltadas à busca do divino. O Seva é um ato de doação pura, feito com o coração, em nome do bem-estar coletivo.
Desde que iniciei minha caminhada pela filosofia indiana, tive contato com o Seva em diversos momentos. Em retiros espirituais, essa prática já fazia parte da rotina, integrando o cotidiano de forma orgânica. Mas nada se compararia ao que viria a viver no ashram de Amma, a mestra indiana reconhecida mundialmente por abraçar milhões de pessoas e espalhar compaixão pelo mundo.
No primeiro dia no ashram, percebi que grande parte das conexões que estabeleci foi com pessoas que estavam ali como voluntárias. Jovens e idosos, todos servindo com sorrisos genuínos e olhares acolhedores. Na cafeteria, na loja de artigos espirituais, na istração — todos agiam com um brilho nos olhos que só o serviço devoto pode gerar. Era como se Amma atuasse silenciosamente por meio de cada um deles. Para mim, eram como contas de um grande mala (rosário hindu), todos ligados por um fio invisível de amor e fé, unidos pela mestra.
Desejando mergulhar mais profundamente nessa vibração, manifestei aos meus companheiros de jornada que queria participar de um Seva. Não demorou muito. Após o café da manhã, entrei em uma loja e vi um aviso: havia uma vaga para o Seva com a medicina do cacau. Sorri por dentro. Como guardiã dessa medicina e usuária diária do cacau, percebi ali uma sincronicidade clara. Aquela vaga era para mim.
Apresentei-me no dia seguinte, no horário determinado. Uma indiana me recebeu, levou-me até os fundos da cozinha e colocou dois potes diante de mim: um cheio de sementes de cacau, o outro vazio. Ela demonstrou como descascar uma semente com os dedos e, antes de sair, disse com ternura: “Faça o seu melhor com amor, e tudo estará bem.” E assim me deixou, confiando inteiramente em minha entrega.
O trabalho era solitário, manual, repetitivo. Semente por semente, era preciso separar a casca do nibs (a parte comestível). Horas se avam, meus dedos se cortavam e inchavam, e o resultado era um pequeno punhado de sementes limpas. Um verdadeiro “trabalho de formiguinha”. E foi justamente aí que compreendi a grandiosidade da experiência. Em silêncio, desconectada de tudo e de todos, eu me conectava profundamente com a terra, com minha essência e com a mestra. Foi um momento de oração silenciosa, um mergulho interior, uma cura.
Muitos voluntários escolhem funções com maior interação social, buscando conexão humana e troca de experiências. No meu caso, o que eu mais ansiava era o oposto: o anonimato, o recolhimento, os bastidores. Esse foi o meu templo. E ali, entre cascas e sementes, recebi muitos insights, bênçãos e aprendizados.
Como Amma ensina:
“O serviço altruísta fortalece a mente para que você possa superar qualquer situação na vida.”
Se você também deseja vivenciar um Seva no ashram de Amma, saiba que é possível tanto na Índia quanto em centros da organização espalhados pela América do Norte. Atualmente, o ashram não oferece intercâmbio de trabalho em troca de hospedagem, mas ainda assim, doar tempo e energia ali é um presente para quem busca propósito.
Para mais informações, o Centro de Amritapuri pode ser contatado pelo e-mail: [email protected]
LEIA MAIS: