Uma onda vermelha, dançante, cobriu o palco do Teatro Carlos Gomes neste fim de semana. Foi o espetáculo “As histórias que contamos sobre nós”, de Esther Weitzman. No palco, vestidos de vermelho, bailarinos de técnicas e corpos diversos, com muita vitalidade, que estabelecem uma conexão imediata com a plateia. O espetáculo atual é uma remontagem, com outro elenco, do trabalho criado em 2019, que celebrou os vinte anos da companhia.
A primeira cena, uma das melhores, é ao som de Sympathy for the Devil e já marca a energia que o grupo tem para ar. Duetos acontecem, formações de conjunto e, principalmente, logo transparece em cena as qualidades individuais de cada um dos componentes, o que marca todo o decorrer do espetáculo.
Após Rolling Stones, a trilha sonora, entre outras maravilhas, ainda brinda o público com Robert Plant, Chuck Berry, Freddie Mercury e Tom Waits. Só coisa boa. Em Bohemian Rhapsody, há momentos de grande beleza com a presença somente dos homens em cena. Eles transmitem força, mas também a fragilidade do masculino em transição do mundo atual.
Obras coreográficas que partem da diversidade dos componentes de um grupo, buscando tirar partido do que cada um tem de melhor e de suas histórias pessoais, podem resultar em trabalhos bastante interessantes. De uma certa forma, os trabalhos de Pina Bausch partem desse recurso. Entre nós, numa escala mais amadorística, o espetáculo “Sonhando Inocente”, com formandos da Escola Angel Vianna, ou a “Obra Aluna”, com alunos do Grupo Coringa também tinham essa estrutura. O presente trabalho de Esther Weitzman alcança um alto nível de coesão e de apuro, fruto de muito ensaio e dedicação.
Esther Weitzman é agregadora, amiga de todos, umas das pessoas mais positivas e agradáveis do mundo da dança carioca. No trabalho com a sua companhia ela vem experimentando borrar limites que tradicionalmente eram associados à dança. Em “Dançar não é preciso” ela trabalhou com bailarinos bem jovens. Em “Jogos de Damas” ela reuniu bailarinas de idades variadas e em “Breve”, em que ela própria está em cena com Paulo Marques e Toni Rodrigues, é a elegância e a maturidade dos três artistas o maior atrativo da peça.
Agora, ela remonta um trabalho anterior dando espaço a novos bailarinos. Uns trazem movimentações cheias de energia e outros, com mais limitações físicas, demonstram ter iguais possibilidades de transmitir emoção através do movimento. Em meio a esse conjunto, sobressai a experiência e a qualidade de movimento de Frederico Paredes. O público responde com entusiasmo e eventual participação quando também é convidado a dançar.
Tudo isso num Teatro Carlos Gomes renovado por uma nova obra de restauração, que o deixou impecável. Toda a beleza de sua arquitetura e de sua decoração interna se encontra em seu máximo esplendor. Um orgulho para a Cidade do Rio de Janeiro.