O Paço Imperial, no Centro do Rio, inaugura no próximo dia 14 de junho a exposição “Alto Barroco”, primeira individual do artista André Griffo em uma instituição da cidade. Com curadoria de Juliana Gontijo, a mostra reúne mais de 50 obras — entre pinturas e instalações, muitas inéditas — ocupando o pátio e cinco salões do edifício histórico. O recorte propõe um panorama da trajetória de Griffo ao longo dos últimos 14 anos, sem seguir uma ordem cronológica, mas articulando os trabalhos por temas que se cruzam ao longo do tempo.
A proposta da curadoria é evidenciar as conexões entre séries distintas e momentos diversos da carreira do artista, cuja obra mergulha em questões como religião, poder, política e colonialidade, a partir de uma linguagem visual marcada pelo excesso e pela densidade simbólica. “A ideia é mostrar um panorama do que ele vem fazendo, mas não apresentar de modo cronológico, porque muitas das séries se comunicam entre si”, explica Juliana Gontijo, que acompanha o trabalho de Griffo há mais de uma década.
A mostra reúne obras emblemáticas, como Back to Olympia (2017), Sala dos provedores (2018), O vendedor de miniaturas (2020) e Instruções para istração de fazendas 2 (2018), além de duas pinturas criadas especialmente para esta exposição e outras pertencentes a coleções particulares nunca exibidas publicamente. Conhecido por pinturas de grandes dimensões, Griffo também apresentará trabalhos em outros es, menos difundidos, mas igualmente relevantes dentro de sua pesquisa visual.
Formado em Arquitetura e Urbanismo, Griffo começou sua produção com imagens que misturavam estruturas mecânicas a fragmentos de corpos de animais, compondo cenas de forte impacto visual. A partir de 2014, ou a focar em composições arquitetônicas com precisão técnica e ausência de figuras humanas. Mais recentemente, tem se dedicado a reinterpretações de obras da história da arte, tensionando episódios em que religião, violência e dominação se entrelaçam.
“O tema central do meu trabalho é a religião e como ela tem sido usada como ferramenta de controle — desde o Brasil colonial até a atuação de milícias ligadas a igrejas evangélicas nos dias de hoje”, afirma Griffo. Para a curadora, o artista articula crítica e reverência com uma linguagem barroca, na qual o excesso assume papel central. “Há uma ambiguidade potente: o barroco como forma de dominação, mas também de resistência”, resume.
A exposição
Logo na entrada do Paço, no pátio interno, estará a instalação Predileção por alegorias – andaimes (2015), com 7,5 metros de altura. Composta por andaimes de ferro com arcos ogivais góticos, a obra propõe um diálogo entre a arquitetura moderna e a religiosa medieval, antecipando as questões que viriam a ocupar a produção do artista.
Na primeira sala, obras como Um altar consagrado, Base para crucificação e Barroco Vazio dividem espaço com Back to Olympia, na qual Griffo revisita a célebre Olympia (1863), de Manet, colocando em destaque a figura da mulher negra que aparece em segundo plano na pintura original. “É uma sala sobre o vazio e o excesso, uma tensão que atravessa toda a mostra”, explica Gontijo.
As salas seguintes ganham uma montagem que explora camadas e perspectivas, com obras suspensas e dispostas no centro do espaço. Destacam-se trabalhos da série A supressão do santo pelo ornamento (2018), feitos em madeira, e a pintura O poder e a glória do pecado (2019), de quase 3 metros quadrados, além de uma versão contemporânea do retrato do Papa Inocêncio X, originalmente pintado por Velázquez.
Já o segundo andar apresenta obras do início da carreira, com cenas que mesclam corpos e máquinas, além de estudos arquitetônicos e investigações sobre o arco gótico. Estará ali também O vendedor de miniaturas (2020), em que o artista aborda diretamente a relação entre religião e milícias no Rio de Janeiro. A instalação sonora A materialização do canto da Mãe da Lua (2022) ocupa outro espaço e propõe uma reflexão sobre família, patriarcado e religiosidade, com base em uma lenda popular sobre o pássaro Mãe da Lua.
Completam a mostra O Massacre dos inocentes (2023), que sobrepõe personagens contemporâneos a cenários históricos, e séries inspiradas no pintor renascentista Sassetta, incluindo obras com folhas de ouro aplicadas em figuras demoníacas — em uma crítica à tradição sacra que ele inverte poeticamente.
Sobre o artista
André Griffo nasceu em 1979, em Barra Mansa (RJ), e vive atualmente no Rio de Janeiro. Já apresentou exposições individuais no Centro Cultural São Paulo, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, e na Galeria Nara Roesler, em Nova York e São Paulo. Participou ainda de mostras coletivas como Casa Carioca (Museu de Arte do Rio), From the Ashes (Londres), a 21ª Bienal Sesc_Videobrasil e Parada 7 – Arte em Resistência. Suas obras integram acervos como os do Museu de Arte do Rio, Denver Art Museum (EUA) e Kistefos Museum (Noruega).
Serviço
Exposição “Alto Barroco”, de André Griffo
Abertura: 14 de junho de 2025
Local: Paço Imperial – Praça XV de Novembro, 48 – Centro, Rio de Janeiro
Visitação: de terça a domingo, das 12h às 18h
Entrada gratuita