Na reabertura de um dos maiores marcos do modernismo brasileiro, duas ausências pesaram mais do que qualquer discurso. Nenhum membro das famílias de Gustavo Capanema, ex-ministro de Getúlio Vargas que dá nome ao edifício, e de Oscar Niemeyer, arquiteto responsável pelo projeto ao lado de Lúcio Costa, foi convidado para a cerimônia realizada na última terça-feira (20/05), no Centro do Rio.
O evento contou com a presença do presidente Lula e da ministra da Cultura, Margareth Menezes. Após seis anos fechado para reformas, o Palácio Capanema foi entregue ao público com investimentos de R$ 80 milhões, espaços requalificados e novos usos voltados à cultura e à istração pública. O edifício agora abriga órgãos como o Iphan, a Biblioteca Nacional, o Ibram e a Funarte. A visitação é gratuita.
Apesar da solenidade com presença de autoridades, nenhum convite foi enviado aos descendentes daqueles que tornaram o prédio possível. Gustavo Capanema Neto, neto do ex-ministro, classificou a omissão como absurda. Disse que ninguém da família foi sequer procurado.
Do lado dos Niemeyers, a frustração foi parecida. Kadu Niemeyer, que istra inclusive o escritório do avô na Avenida Atlântica, lamentou o esquecimento e criticou o excesso de convidados que, segundo ele, nada tinham a ver com a história do lugar. Relembrou ainda a relação próxima entre Oscar Niemeyer e Gustavo Capanema, marcada por afinidade e reconhecimento mútuo.
Projetado por Niemeyer e Lúcio Costa, com consultoria de Le Corbusier e paisagismo de Burle Marx, o Palácio Capanema foi o primeiro edifício modernista do país. Inaugurado em 1945, foi e ainda é um ícone arquitetônico, símbolo de uma nova visão de Brasil. A restauração preservou obras de Portinari, painéis de Paulo Osir e o jardim suspenso do segundo andar. O térreo voltou a ser livre, como no desenho original, sem os tapumes que o isolavam. No 16º andar, um café com vista para o Aterro, o Centro e o Pão de Açúcar será aberto em breve.
Estive ontem no Palácio Capanema e, para minha surpresa, o edifício não está aberto ao público.
Polêmica! Teriam que ser convidados os familiares?
Se os autores que projetaram estivessem vivos, até concordaria.
Agora convidar familiares pra quê? Digam!
Heron, entendo muito o seu ponto! Sou de uma geração mais nova da família Capanema, que realmente não conheceu o Gustavo. Pelo que tenho acompanhado, a frustração dos familiares mais velhos (netos), que conheceram o ministro, decorre de uma perspectiva afetiva, da memória.
A família recebeu com muita alegria a reinauguração do edifício, que ficou fechado por praticamente dez anos. Parte da família, aliás, se mobilizou publicamente contra leilão do edifício na gestão Bolsonaro. A frustração de agora não a muito pela questão do palanque ou da atenção política.
O que frustrou é que parte do evento de reinauguração foi em memória ao Capanema e à história do edifício, e que familiares de uma geração que conheceu o Ministro não puderam comemorar junto e fazer parte dessa solenidade presencialmente (de novo, por uma questão de afeto e memoria, sem pretensão alguma de palanque). Como edifício público, o Governo Federal pode utilizar o Palácio Gustavo Capanema para todo e qualquer evento institucional. E se o evento de terça fosse apenas uma entrega de condecorações, estou certo de que a frustração familiar não teria ocorrido. O que frustrou foi justamente esse momento de um evento tão bem vindo que homenageou a reinauguração e os idealizadores do edifício, sendo que familiares de uma geração que conheceu os homenageados não puderam fazer parte em memória deles.
Dos bastidores, destaco que a minha família chegou a enviar e-mail ao IPHAN e ao MINC perguntando se o evento da reinauguração seria aberto ao público em geral. Isso porque, mesmo se não fosse algo fechado com convites, teríamos comparecido com muita alegria (pois, de novo, não há interesse de palanque). A família inclusive quis aproveitar esse momento de celebração para doar alguma gravura familiar ou pertence privado do Gustavo Capanema ao acervo do edifício. Infelizmente, não tivemos retorno nos e-mails, mas destaco que o interesse da doação ainda persiste.
Um forte abraço.