Este artigo resume um importante relatório sobre segurança pública no Rio e em São Paulo. O estudo mostra como o crime organizado e as milícias ameaçam a democracia. Expõe dados alarmantes e propõe soluções integradas. A seguir, os principais pontos e propostas.
Um estudo necessário e urgente
O relatório “Experiências de (In)segurança Pública em São Paulo e Rio de Janeiro” é um documento fundamental para compreender o cenário crítico da segurança pública nas duas maiores metrópoles do Brasil. Produzido em parceria entre o Diálogo Interamericano, a Fundação Fernando Henrique Cardoso (Fundação FHC) e a Escola de Segurança Multidimensional (ESEM) do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), o estudo alia rigor acadêmico a uma perspectiva realista e propositiva.
Disponível em português e inglês, o relatório analisa os desafios impostos pelo crime organizado e propõe uma guinada urgente nas políticas públicas de segurança: com mais coordenação institucional, investimento em tecnologia, integração federativa, justiça criminal eficiente e ações sociais nos territórios vulneráveis.
A versão integral pode ser ada no seguinte sítio:
https://drive.google.com/file/d/16jbL6cf1CKKZ8qkZj1y_WAvOAOJ32LWs/view?usp=drivesdk
O diagnóstico do descontrole
O Brasil é um dos países com maior percepção de presença do crime organizado em nível local, segundo dados do Latinobarômetro.
O Latinobarômetro é uma pesquisa de opinião pública realizada anualmente em diversos países da América Latina. Seu objetivo é medir a percepção dos cidadãos sobre temas como democracia, instituições, economia, segurança, corrupção e valores sociais. É conduzido pela Corporación Latinobarómetro, uma organização sem fins lucrativos com sede no Chile, e seus dados são amplamente utilizados por governos, pesquisadores e organizações internacionais para entender tendências sociais e políticas na região.
Quanto à situação de nosso país, não é para menos: das prisões aos bairros periféricos, do tráfico de drogas à extorsão empresarial, da lavagem de dinheiro ao financiamento político, o poder do crime se espalha como metástase em um organismo institucional enfraquecido.
Quatro desafios centrais são apontados:
- Perda de soberania do Estado em presídios e territórios: grupos armados exercem domínio sobre comunidades inteiras, ditando normas, impondo sanções e até oferecendo “serviços sociais”.
- Diversificação dos mercados ilícitos: muito além das drogas, o crime atua com combustíveis, segurança, contrabando, TV pirata, apostas e imóveis.
- Corrupção institucionalizada: infiltração em polícias, sistema de justiça e poderes públicos, com especial destaque para milícias compostas por agentes do próprio Estado.
- Crescimento contínuo da violência: a letalidade policial e os conflitos entre facções resultam em números alarmantes de mortes, sobretudo de jovens negros.
O retrato de dois estados em guerra
O relatório justifica o foco em São Paulo e Rio de Janeiro por serem os centros operacionais do PCC (Primeiro Comando da Capital) e do CV (Comando Vermelho) — duas facções com influência nacional. Além disso, o Rio enfrenta o fenômeno das milícias, com atuação empresarial e política.
Alguns números chocam:
- O PCC arrecada mais de US$ 1 bilhão por ano e atua como uma federação de facções, regulando o “mercado ilegal” com normas próprias.
- No Rio de Janeiro, milícias e facções disputam mais de 30% do território urbano, cobrando taxas sobre moradia, comércio, transporte, TV e internet.
- Em 2023, o Brasil teve 46 mil mortes violentas, e 82,7% dos mortos pela polícia eram negros.
- A chance de um negro ser morto pela polícia é quase quatro vezes maior que a de um branco.
A fragmentação que sabota a segurança
O estudo denuncia o caos organizacional do sistema de segurança pública brasileiro: sobreposição de funções entre diferentes forças policiais, ausência de bancos de dados unificados, falhas de comunicação entre esferas estaduais e federais e estruturas anacrônicas.
Entre os problemas mais evidentes:
- O sistema prisional tem superlotação crônica e é controlado de dentro para fora pelas próprias facções.
- A baixa resolutividade das polícias civis impede que crimes sejam investigados e punidos: no Rio, apenas 12% dos crimes registrados em 2015 chegaram à Justiça.
- O SUSP (Sistema Único de Segurança Pública), criado em 2018, ainda é uma promessa não cumprida.
Um roteiro para a mudança
O relatório propõe uma agenda de segurança pública democrática, com ações que integrem o rigor penal à prevenção social. As medidas sugeridas incluem:
- Câmeras corporais nas fardas: já implantadas com sucesso em São Paulo e no Rio.
- Coordenação entre agências: construção de padrões mínimos, bases de dados, interoperabilidade e treinamento conjunto.
- Gestão das fronteiras: integrar diplomacia, inteligência e controle, especialmente contra o avanço do Trem de Aragua (facção criminosa transnacional originária da Venezuela).
- Reforma do sistema penal: rever a Lei de Execuções Penais (LEP) e ampliar o uso de alternativas penais em crimes sem violência.
- Controle de armas e munições: rastreamento, integração entre sistemas como o SINARM (Sistema Nacional de Armas) e o SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), e combate à atuação irregular dos CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores).
- Participação comunitária: fortalecimento dos CONSEGs (Conselhos Comunitários de Segurança), conselhos comunitários que promovem o diálogo entre sociedade e polícias.
Segurança é mais democracia, não menos
Diante do avanço do crime organizado e da tentação autoritária que cresce nas sociedades em crise, o relatório afirma com clareza: não se combate a barbárie com mais barbárie. O caminho é mais direitos, mais transparência, mais eficiência estatal e mais escuta da população.
Cinco diretrizes guiam essa nova agenda:
- Sanção penal eficaz com prevenção social estruturada.
- Políticas públicas desideologizadas, orientadas por evidências.
- Compromissos duradouros, além de ciclos eleitorais.
- Integração regional contra o crime transnacional.
- Comunicação estratégica, clara e participativa com a sociedade.
Em tempos de insegurança, é comum ouvir que é preciso escolher entre liberdade e ordem. Mas esse é um falso dilema. A verdadeira segurança nasce do respeito às leis, da eficácia das instituições e da presença ativa e legítima do Estado nos territórios. O resto é retórica de medo — e o medo, como sabemos, é o caminho mais curto para o autoritarismo.
O Japão teve melhores resultados no enfrentamento da máfia japonesa com adoção de duras medidas penais judiciais e execução de ordens locais (isto é, da autoridades istrativa) inclusive contra quem fizer negócio com integrantes das organizações criminosas, ter cassada autorização da atividade etc.
Pelo amor dos meus filhinhos, pesquisem sobre o assunto.
Grato pela informação, Daniel. Um abraço. Antônio Sá
Japão combate a violência através da combinação de forte aplicação da lei, controle rigoroso de armas (alcançando penas perpétua e de morte em crimes relacionados) e sistema de justiça criminal enfatizando retribuição e punição, em vez de reabilitação.
Prezado Daniel, grato pala informação. Um abraço. Antônio Sá
Prezado Daniel, grato pela observação enviada. Um abraço. Antônio Sá
Chama a atenção o seguinte registro
“propõe uma guinada urgente nas políticas públicas de segurança: com mais coordenação institucional, investimento em tecnologia, integração federativa, justiça criminal eficiente e ações sociais nos territórios vulneráveis.”
Como que quer resolver a questão criminal sem endurecimento penal?
Temos as fraudes que cresceram absurdamente. Isso porque quase sempre ninguém fica preso. O criminoso tem como possíveis a suspensão do processo e da pena. Logo, é um absurdo se sugerir mais adoção de penas alternativas em relação a todo crime sem violência. Querem a todo custo liberar pequenos e médios traficantes da cadeia… Só pode
Grato pelo comentário, Daniel. Um abraço. Antônio Sá
Prezado Daniel, grato pelos comentários. Um abraço. Antônio Sá
Prezado Renato, ações integradas entre todas as esferas de governo e não entre dois estados somente. Um abraço. Antônio Sá
Propor ações integradas com quem?
Com os paulistas?
Tá de sacanagem?!
O Mordor (não motor) do Brasil sabotou e sabota o Rio de Janeiro o tempo todo!
Por que temos que fazer parcerias de ações integradas com eles?
Prezado Renato, grato pelo comentário complementar. A proposta trata de ações integradas entre todas as esferas de governo e não entre dois estados somente. Um abraço. Antônio Sá