A disputa pelo Palácio Guanabara em 2026 ainda não começou oficialmente, mas a corrida já está em movimento — e um grupo em especial tem tudo para assumir um papel central na eleição: o eleitorado evangélico, que representa hoje mais de 30% da população do Estado do Rio, segundo levantamento da Mar Asset Management. As informações são de Lucas Luciano/Tempo Real.
Com um crescimento constante nas últimas décadas, os evangélicos devem alcançar 36% da população brasileira até 2026. A força eleitoral já é vista como determinante, e pré-candidatos como Eduardo Paes (PSD), Rodrigo Bacellar (União Brasil) e Washington Reis (MDB) têm voltado suas estratégias para esse público.
Paes aposta em gestos concretos
O prefeito do Rio tem multiplicado gestos de aproximação com o segmento. Só neste ano, a Prefeitura liberou R$ 1,9 milhão para a Marcha para Jesus e outros R$ 350 mil para o evento “JA de Verão 2025”, promovido pela Igreja Adventista. O evento entrou, inclusive, para o Calendário Oficial do município.
Em dezembro de 2024, Paes anunciou a criação do centro temático “A Terra Prometida”, em Santa Cruz, espaço inspirado na cultura evangélica. O réveillon de Copacabana 2025 também ganhou um palco exclusivo para música gospel, algo inédito. Esses movimentos se refletem em números: nas eleições de 2024, Paes foi reeleito com 55% de intenção de voto entre evangélicos.
Mas nem tudo são flores. O Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) acionou o Ministério Público Federal, alegando favorecimento desproporcional a esse segmento religioso.
Bacellar e o campo da direita evangélica
Do outro lado, Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj, surge como pré-candidato com apoio do campo bolsonarista, incluindo o governador Cláudio Castro (PL). Ainda que não tenha feito gestos explícitos ao público evangélico, Bacellar herda o capital simbólico de estar filiado a partidos identificados com a direita — tendência dominante entre evangélicos desde 2018.
Mesmo assim, Bacellar não esteve na Marcha para Jesus deste ano, evento organizado pelo pastor Silas Malafaia. Castro compareceu e chegou a afirmar que “eventos cristãos também movimentam a economia, como shows da Madonna ou Lady Gaga”.
Washington Reis busca espaço com apoio evangélico
Quem esteve no evento foi Washington Reis, ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário estadual de Transportes. Ele subiu ao palco ao lado de pastores e tem recebido apoio de lideranças como o próprio Malafaia. Seu nome é bem cotado entre o segmento, mas ele ainda enfrenta incertezas jurídicas por conta de uma condenação ambiental no STF, que o deixou inelegível.
Segundo a colunista Bela Megale, setores do PL demonstram resistência à pré-candidatura de Bacellar, o que abre espaço para Reis tentar uma costura alternativa, inclusive com o PP de Wladimir Garotinho, que vem sendo cortejado por Paes.
Especialistas veem jogo em aberto
Para a cientista política Mayra Goulart (UFRJ), o eleitorado evangélico será “certamente decisivo”, mas o quadro ainda é instável: “A federação entre União Brasil e PP foi atraída para o campo do PL, aproximando-se de Bacellar, mas Paes ainda tenta atrair setores do PP para sua base.”
Ela aponta ainda que partidos como Republicanos e MDB ficaram fora dessa federação por razões ligadas à identidade evangélica, o que pode facilitar alianças com Paes.
Já o professor Fernando Meireles (UERJ) destaca que o voto evangélico está cada vez mais orientado por valores e pautas morais, como “pró-família” e “pró-vida”, e não tanto por influência direta de pastores: “Eduardo Paes conseguiu parte desse voto, mas ele não é uma candidatura natural para esse público.”
Brand Arenari (UFF) concorda: “Rodrigo Bacellar aparece hoje como o nome mais forte para conquistar o eleitorado evangélico, tanto pelo partido quanto por sua proximidade com o bolsonarismo.” Ainda assim, Arenari pondera que Paes sempre orbitou o centro político, e sua associação recente à centro-esquerda é mais municipal do que estadual.
Evangélicos divididos em três grandes correntes
A pesquisa da Mar Asset Management também mapeou a diversidade interna do mundo evangélico. Três segmentos principais:
- Missionários, com tradição reformada e foco social, representados por igrejas como Presbiteriana, Batista e Metodista
- Pentecostais, voltados para experiências espirituais, com destaque para a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil
- Neopentecostais, com forte apelo midiático e doutrina da prosperidade, liderados por igrejas como a Universal, Graça e Mundial
Cada um reage de forma distinta às eleições, o que reforça que o voto evangélico não é homogêneo — mas, em 2026, promete ser o mais importante da história política fluminense.