A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) homenageou nesta segunda-feira (9/6) uma das maiores lideranças negras do país. A deputada federal Benedita da Silva, ex-governadora do estado, recebeu o título de doutora honoris causa durante cerimônia realizada no Auditório Pedro Calmon, no campus da Praia Vermelha.
A iniciativa partiu do Nepp-DH (Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida) e foi aprovada por aclamação no conselho superior da universidade em novembro de 2024.
Visivelmente emocionada, Benedita discursou por mais de vinte minutos, com falas marcadas por gratidão e defesa das populações marginalizadas: “Esse título é da doméstica que cuida como especialista em assistência social. É da manicure, que escuta mais que muito analista. É do motoboy, que conhece a cidade tanto quanto o urbanista… É dos pretos e pretas, das vítimas das balas achadas, das juventudes periféricas, da população LGBT”.
A cerimônia, acompanhada por familiares e amigos, teve entre os presentes o ator e cineasta Antônio Pitanga, marido da homenageada, e foi marcada por longas palmas e demonstrações de carinho do público.
O reitor da UFRJ, Roberto Medronho, exaltou o legado da parlamentar: “Uma mulher negra, guerreira, feminista, a favor da inclusão social, radicalmente contra a desigualdade social… O saber está no povo. Está no dia a dia da favela, das comunidades”.
Nascida em 1942, Benedita da Silva construiu sua trajetória política partindo do Chapéu Mangueira, onde morou por 57 anos. Atuou como líder comunitária, alfabetizadora voluntária, fundadora do Departamento Feminino da associação de moradores local, e aos 40 anos formou-se em Serviço Social. Sua atuação na política inclui marcos como ser a única mulher negra na Constituinte de 1988, autora da emenda que reconheceu terras quilombolas, e proponente da PEC dos direitos das trabalhadoras domésticas.
Foi senadora, vice-governadora e, por nove meses em 2002, governadora do estado do Rio, quando implementou ações afirmativas que garantiram 20% de negros no primeiro escalão e basearam as cotas raciais nas universidades estaduais.
Durante o evento, a superintendente de Ações Afirmativas da UFRJ, Denise Góes, reforçou o caráter simbólico da homenagem: “Esse título está sendo concedido a você porque uma pessoa negra pensou nesse título e uma pessoa negra efetivou esse título. Nós precisamos nos puxar. Nós falamos por nós”.
Para Fernanda Barros, professora do Nepp-DH, a entrega do título é “o reconhecimento de uma trajetória gigantesca”. “Em especial para nós, mulheres negras, oriundas das classes populares, dos subúrbios, do interior e das favelas”, disse.
Ao final do discurso, Benedita sintetizou o significado da homenagem com palavras de força e inclusão: “A universidade pública é a contramão do silêncio imposto. O saber deixa de ser privilégio dos bem-nascidos e se faz conhecimento com retribuição generosa ao mundo. Este título celebra a política, a diversidade, o saber que liberta, não se ajoelha ao autoritarismo”.