Lacração por Decreto

A desapropriação de um imóvel utilizado como cenário do filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, gerou controvérsias. O prefeito Eduardo Paes anunciou a medida, que agora enfrenta resistência na Câmara.

ment
Receba notícias no WhatsApp e e-mail
Locação para o filme “Ainda estou aqui”, na Urca

No domingo a esquerda festejou a vitória no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com o filme Ainda Estou Aqui – dirigido por Walter Moreira Salles, filho do banqueiro Walther Moreira Sales (1912-2001); foi uma comemoração repleta de contradições, haja vista que a família Moreira Salles tem um histórico de riqueza que contraria o pressuposto da deputada federal Samia Bonfim, do PSOL, que certa vez (2022) postou no X (ex-Twitter) sua “inteligente” frase “Bilionários não deveriam existir”.

Há mérito na frase porque há nela uma franqueza e uma sinceridade desconcertantes, uma vez que se os planos de Carlos Lamarca (a quem Rubens Paiva estaria ajudando de forma indireta) dessem realmente certo, o banqueiro Moreira Salles teria sido morto dentro do que a esquerda chama de revolução. Não haveria Moreira Salles, nem seus filhos cineastas. Vale lembrar que a esquerda vive citando a paráfrase do filósofo e padre francês Jean Meslier, que certa feita escreveu (erradamente) que “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”. A estupidez de Meslier foi repetida dois séculos depois, pelos comunistas, que apenas trocaram “rei” por “banqueiro”.

E não se enganem: é exatamente assim que pensa a esquerda, ainda que de vez em quando façam “media training” caríssimos para aparentar tolerância e cordialidade – como foi o caso do sr. Guilherme Boulos no ano ado. Para sorte de São Paulo, nem o media training resolveu.

Enfim, todo esse preâmbulo um pouco longo é para comentar que mais uma vez o prefeito Eduardo Paes não aguentou ver os esquerdistas comemorando e correu, todo serelepe, para anunciar que iria desapropriar a casa onde foram realizadas parte das filmagens. Veja bem: não é a casa onde aconteceu absolutamente fato algum, e sim onde foram filmadas as representações de alguns fatos. É a “estória” substituindo a História. Mal-comparando, é como se todos os anos os mortos da invasão da Normandia fizessem uma cerimônia religiosa na praia de Ballinesker, na Irlanda, onde Spielberg filmou as acachapantes imagens iniciais de “O resgate do Soldado Ryan”. Ou sujeitos fantasiados de índio para o Carnaval recebessem proteção da Funai durante os festejos.

“Coincidentemente” no mesmo dia em que o prefeito anunciava a desapropriação da casa, os donos – que ninguém divulgou ainda quem são – também divulgavam via imprensa que o “novo preço” da casa seria de R$ 25 milhões. Sendo que pelo aplicativo Zap Imóveis é possível constatar que ao lado, com entrada pela Avenida João Luis Alves, há uma casa com praticamente a mesma metragem custando R$ 10,5 milhões. Pelo jeito, nosso prefeito tem talento para a corretagem de imóveis (pelo menos para o lado vendedor).

Enfim, diante de mais essa lacração por decreto, não me restou alternativa a não ser protocolar Projeto de Decreto Legislativo para sustar as medidas do prefeito. Com efeito, pois a utilização do imóvel como cenário de um filme não configura, por si só, um motivo jurídico sólido para desapropriação. Mais: o imóvel não é tombado nem possui comprovação técnica de relevância histórica. O critério utilizado abre um precedente perigoso para desapropriações arbitrárias com base no impacto cultural de filmes. Vão desapropriar, por exemplo, a Favela Tavares Bastos inteira, depois que por lá foram filmados O incrível Hulk e Tropa de Elite?

Acredito que na democracia cada um escolhe quem homenagear – mas com o dinheiro público há que se ter mais cautela. Com certeza há alternativas menos onerosas para criar um espaço de memória sem comprometer os cofres públicos. Infelizmente, nosso prefeito escolheu lacrar até por decreto. Não duvido e em breve vai criar um feriado (mais um daqueles feriados em que apenas a turma dele fica de folga, enquanto os trabalhadores comuns vão para a labuta diária).

Espero que meu projeto seja devidamente acolhido pela Câmara, mesmo pelos vereadores da base do prefeito, que vão entender o completo absurdo dessa medida e certamente estranhar a elevação súbita de preço do tal imóvel.

E calma, prefeito, não pense que pode fazer suas lacrações de forma deliberada: nós, do PL, ainda estamos aqui.

ment
Receba notícias no WhatsApp e e-mail

5 COMENTÁRIOS

  1. Certíssimo…já tinha falado…tem gato na tuba!!!Tá muito esquisito isso!!
    Imagina se começa a sair desapropriando assim sem mais nem menos!!!Não é pra ar uma rua,construir um hospital!!!Seria pra virar um resort pra “funcionários ” da Rio filmes…que beleza,ali na Urca…. happy hour garantido com uma bela vista!!
    Esse pessoal do cinema é tão desapegado de luxo,tão descolado…porque não fazer essa repartição pública em Bangu hein?Trabalham taaaaanto!!

    Li que a casa é de uma miguxa do bilionário..muito estranho mesmo!!!
    E tem babac@ q bate palma!!!Kkkkkk realmente,bando de ameba!!!

  2. Concordo, faz muito bem e é da competência da casa Legislativa fiscalizar e sustar os atos descabidos do prefeito – que é o caso. Não tem menor cabimento desapropriar um imóvel que foi cenário de filme, nem sequer o bem é o mesmo que residiu a família, somando-se ainda o fato estranhíssimo de que este imóvel depois a informação já subiu o valor de venda para 25 milhões.
    Acho até mesmo penso que caberia afastar o prefeito. Como num caso desse não tem impedimento?

  3. O vereador mais querido do Diario do Rio volta novamente. Como sempre, inventa uma narrativa no qual a “esquerda lacradora” promoveu um filme ao ponto de vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro. Ora, o sucesso de “Ainda Estou Aqui” vai além da rivalidade entre Direita de Twitter x Esquerda de Twitter: É um ótimo filme, que toca na alma até da pessoa de mais dura estirpe. Só não toca na alma do vereador ansioso e sua trupe, porque essa turminha, puxa saco da Ditadura Militar, vive a vida a falar bobagens. Mas não se preocupe: Sua turma pode promover o documentário do Olavo de Carvalho. Vai que conseguem algum prêmio. Aliás, o vereador e sua trupe inventa um factóide apenas pra não ser questionado sobre a incompetência do Claúdio Castro, o governador que ele ama e apoia de coração.

  4. O imóvel com essa iniciativa será blindado da especulação imobiliária e sediará a RIOFILMES. Espantoso como o bolsonarismo agrega milhares de imbecis frustrados, recalcados e invejosos. O mito está apenas aguardando sua sentença que será longa e com ele essa manada de primatas rudimentares também sairá da vida pública.

Comente

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui